No Brasil, o câncer de mama é o mais incidente(depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer – INCA. No Paraná, estão previstos cerca de 3.650 novos casos. Com tumores menores do que 1 cm, os índices de cura giram em torno de 95%, desde que descoberto logo no início, daí a importância do diagnóstico precoce. O câncer de mama é uma doença que pode ser prevenida na maioria dos casos, conforme adesão a hábitos de vida mais saudáveis.
Existem tipos diferentes de câncer de mama, que são denominados de acordo com o local na mama onde começa a crescer, com o quanto o câncer cresceu ou se espalhou e com certas características que influenciam como o câncer se comporta. Ter clareza, no diagnóstico, sobre o tipo de câncer de mama é de suma importância para escolher com o médico responsável a melhor opção de tratamento.
A oncologista clínica Rayana Echarki T. A. Postai, do COP – Centro de Oncologia do Paraná, explica que os tipos mais comuns de câncer de mama são o carcinoma in situ, considerado não invasivo, e os invasivos. O ductal se inicia nos ductos mamários, já o lobular, atinge os lóbulos, ou glândulas produtoras de leite. O carcinoma in situ se encontra confinado à mama e ainda não tem potencial de se disseminar, o que torna o tratamento menos agressivo e com melhores resultados. Já o invasivo pode se disseminar localmente na mama e a distância.
“Ultimamente, estamos percebendo um aumento do número de mulheres com o diagnóstico de triplo negativo, ou seja, as células dos tumores não produzem uma proteína específica, chamada HER2, nem têm receptores de hormônios sexuais femininos, como o estrogênio e a progesterona. Por ser invasivo e muito agressivo, o câncer de mama triplo negativo é capaz de se disseminar rapidamente. Mesmo após o tratamento, há uma chance de haver recidiva”, aponta a oncologista clínica. As terapias mais recomendadas para esse tipo de tumor são cirurgia, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia.
A advogada LCT, de 26 anos, solteira, está em tratamento devido a um câncer de mama HER2+ hiperexpresso, com receptores hormonais positivos – G3, Ki-67 75%. Por usar prótese de silicone, adotou a rotina de fazer ecografia mamária de seis em seis meses. “Em setembro de 2022, fui à ginecologista para realizar exames de rotina e aproveitei para fazer a ecografia das mamas, que, num primeiro momento nada apontou em suas imagens, porém, uma semana depois, em consulta com a médica para mostrar os exames, ela procedeu ao exame de toque das mamas, mesmo com o bom resultado da ecografia, e constatou um pequeno caroço na minha mama esquerda.”
Doutora Rayana Postai, médica da advogada, conta que por ser muito agressivo esse tipo de tumor, o tratamento precisava começar o mais breve possível. “De imediato, usamos a quimioterapia para diminuir o tamanho do tumor e posteriormente a cirurgia, radioterapia e, atualmente, estamos utilizando a terapia-alvo”.
Nas palavras da advogada, receber o diagnóstico foi “devastador, desesperador, impactante e, com toda certeza do mundo, o pior dia da minha vida. Mas, ao mesmo tempo, foi muito importante internamente”.
As dúvidas iniciais de LCT sobre se o seu cabelo iria cair, se ficaria fraca ou até mesmo se sua vida iria acabar, deram lugar a uma luz que se acendeu em seu interior e que a levou a refletir sobre como ser protagonista de sua história. “Ali mesmo, na mesa da Dra. Rayana, eu prometi para mim e para ela que daria o meu máximo e que juntas iríamos (e vamos) vencer essa doença, que ela não iria me atingir e que eu iria viver o máximo que desse sem deixar o câncer me parar.”
O câncer não parou esta jovem advogada que o tem “destruído” todos os dias. “O diagnóstico me chacoalhou e me fez mudar por completo (estilo de vida, pensamentos, vontades e prioridades). Não vou mentir, é muito difícil, às vezes impossível, mas cada dia é uma vitória. Cada dia é um recomeço. Tudo isso mostra que eu, assim como todas as pessoas que passam pela mesma situação, precisamos ser fortes.”
Mudança na rotina de vida
Após o diagnóstico, LCT mudou completamente sua rotina. Antes, trabalhava incansavelmente e sem freio (umas 10/12 horas por dia, aproximadamente, além dos finais de semana), não cuidava da alimentação, tinha pouco tempo para sua família e, principalmente, para si mesma. “Sono nunca era minha prioridade e tampouco o lazer. Além disso, ainda que eu goste muito de praticar atividade física, não me dedicava como deveria, e, quando muito, fazia uma caminhada. Me afastei das coisas que eram essenciais. Eu tinha me abandonado”, conta ela.
Porém, com a descoberta do câncer e durante o tratamento, tudo isso se modificou para ela, que enfatiza: “eu mudei minha personalidade, jeito, aparência e, por incrível que pareça, para melhor”. Durante esse processo, ela adotou uma cachorrinha, começou a se alimentar melhor, a fazer atividade física (praticando três vezes por semana, mesmo ao longo do tratamento com a quimioterapia). “Dei prioridade para a minha saúde, não apenas física, mas principalmente mental”, destaca.
Atualmente, a advogada trabalha de forma mais calma e controlada. “Aprendi a reclamar menos, me estressar menos e a compreender mais, especialmente o porquê das coisas, por que razão algo nos acontece e/ou precisa acontecer. Percebi a importância da atividade física e da boa alimentação, principalmente para amenizar os efeitos colaterais de todos os medicamentos, mas não apenas por isso, também por um estilo de vida mais tranquilo. Aprendi a viver cada momento como se fosse o único. Ressignifiquei por completo minha vida, afinal, a oportunidade de viver todos os dias é incrível”.