Hepatite é um termo para definir as doenças que causam inflamação no fígado. Existem muitas causas de hepatite, como o abuso de álcool, drogas, alguns tipos de medicamentos e alguns germes causadores de infecções. Uma das causas comuns de hepatites são os vírus. No Brasil, 70% das mortes por hepatites virais são decorrentes dos tipos mais comuns entre nós: a hepatite C, seguida pela hepatite B e a A. Esses tipos de hepatite podem ser transmitidos de pessoa para pessoa através do uso de agulhas e seringas contaminadas, relações sexuais, parto (mãe para o filho) ou transfusões de sangue.
As hepatites virais B e C são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de um dos tipos de câncer de fígado, o hepatocarcinoma. A infecção crônica no fígado, causada pelos vírus B e C, pode fazer a doença evoluir para cirrose e também para câncer. A hepatite A não causa infecção crônica e não está associada ao risco. Existem outras causas de cirrose e câncer de fígado, mas os vírus B e C são as causas mais comuns.
Dados de pesquisas revelam que as pessoas infectadas pelo vírus B tem 100 vezes mais chance de desenvolver câncer de fígado. Sobre a hepatite C, ela é responsável por 54% dos casos deste câncer no Brasil. Cerca de 4% dos pacientes cirróticos com hepatite C evoluem para câncer por ano em nosso país, tornando esse assunto uma grande preocupação no contexto das políticas de saúde pública.
O hepatocarcinoma é um dos cânceres mais incidentes no mundo, com aproximadamente 560.000 novos casos diagnosticados a cada ano, sendo que 80% estão relacionadas aos vírus da hepatite B e C. Esse tipo de câncer é altamente maligno, e de difícil tratamento. Dependendo do estágio, da idade e de fatores clínicos do paciente, o tratamento é feito com cirurgia, medicamentos, métodos ablativos invasivos ou transplante de fígado.
Por isso, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais para se diminuir o impacto da doença. Nos estágios iniciais existem bons tratamentos e inclusive chances de cura.
Prevenção da hepatite B
Na prevenção da hepatite B a vacinação tem um papel muito importante. Desde que se tornou possível a vacinação e prevenção da hepatite B, observou-se uma diminuição da prevalência do câncer associado ao vírus B. A vacina para a hepatite B está disponível no SUS para todas as pessoas não vacinadas, independentemente da idade. Para crianças, faz parte do calendário obrigatório de vacinação. A vacina contra o vírus da hepatite B foi a primeira vacina desenvolvida contra um tipo de câncer! Infelizmente, ainda não existe vacina para o vírus da hepatite C.
Como os vírus da hepatite tipo B e tipo C são transmitidos pelo sangue, usuários de drogas injetáveis e pacientes submetidos ao uso de material cirúrgico contaminado e não-descartável estão entre as maiores vítimas. Por isso, deve-se ter o cuidado com materiais utilizados por clínicas médicas, dentistas, manicures e tatuadores. A contaminação por transfusões sanguíneas é mais rara atualmente, em razão dos testes que são realizados pelos bancos de sangue. O vírus da hepatite B pode ser passado pelo contato sexual, reforçando a necessidade do uso de preservativos.
Nas pessoas já infectadas pelo vírus B ou C, o tratamento das hepatites pode evitar sua evolução para a cirrose e dessa forma reduzir a chance de câncer no fígado. Além disso, os portadores de hepatite crônica B e C, assim como os portadores de cirrose por outras causas, devem fazer acompanhamento frequente com médicos especialistas, com o objetivo de se estabelecer o diagnóstico precoce de um possível câncer, e como isso aumentar as chances de cura.
Dr. Marciano Anghinoni, cirurgião oncológico do Centro de Oncologia do Paraná, especialista em tumores do aparelho digestivo