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Preservar fertilidade em jovens com câncer de mama aumenta o risco de recidiva e morte?

Preservar fertilidade em jovens com câncer de mama aumenta o risco de recidiva e morte?
28/11/2023

Centro de Oncologia do Paraná

Por Emanuella Benevides Poyer, oncologista clínica do COP – Centro de Oncologia do Paraná

O câncer de mama é o mais comum em mulheres jovens e, geralmente, nesta população, apresenta características biológicas mais agressivas e estágio mais avançado no momento do diagnóstico do que em mulheres mais velhas. Dessa forma, as pacientes jovens frequentemente recebem tratamento mais intensivo, com quimioterapia, que pode levar à infertilidade.

Os procedimentos para preservação da fertilidade geralmente incluem estimulação hormonal, mas os dados na literatura sobre a associação desta técnica com alguma deterioração no prognóstico do câncer de mama são escassos.

Diante disso, um estudo de coorte prospectivo sueco foi realizado para avaliar a segurança dos procedimentos de preservação de fertilidade hormonais e não hormonais indicados para pacientes em tratamento para câncer de mama. A pesquisa foi feita na Suécia de 1º de janeiro de 1994 a 30 de junho de 2017. A população final do estudo foi de 1.275 mulheres com idade entre 21 e 42 anos no momento do diagnóstico de câncer de mama, das quais 425 mulheres receberam tratamentos de preservação de fertilidade (criopreservação de tecido ovariano em 58 mulheres, criopreservação de oócitos e/ou embriões em 362 mulheres e uma combinação desses métodos em cinco mulheres) e 850 comparadores populacionais que não foram submetidas à preservação de fertilidade.

O objetivo desse estudo foi investigar as taxas de mortalidade específica da doença e de recidiva em mulheres submetidas à preservação de fertilidade com ou sem estimulação hormonal em comparação com mulheres que não o fizeram no momento do diagnóstico de câncer de mama.

Como resultado, após estratificação pelas variáveis – idade, período do calendário e região e ajuste para país de nascimento, educação, paridade no diagnóstico, tamanho do tumor, número de metástases linfonodais e status do receptor de estrogênio –, a mortalidade específica da doença foi semelhante em mulheres submetidas à preservação de fertilidade hormonal (taxa de risco ajustada 0,59; IC 95%, 0,32–1,09), mulheres que foram submetidas à preservação de fertilidade não hormonal (0,51; IC 95%, 0,20–1,29) e mulheres que não foram expostas ao procedimento. Em uma subcoorte com dados detalhados de recidiva, as taxas ajustadas de mortalidade específica da doença e de recidiva também foram semelhantes entre os grupos que foram submetidos à preservação hormonal (0,81; IC 95%, 0,49–1,37) e à preservação não hormonal (0,75; IC 95%, 0,35–1,62). A taxa de sobrevida específica para câncer de mama em cinco anos foi de 96% no grupo submetido à preservação hormonal, 93% no grupo submetido à preservação não hormonal e 90% no grupo não exposto a nenhuma das intervenções. As estimativas correspondentes após 10 anos foram 88%, 90% e 81%, respectivamente.

Assim, neste estudo de coorte, a preservação de fertilidade com ou sem estimulação hormonal não foi associada ao aumento de risco de recidiva ou de mortalidade específica da doença em mulheres com câncer de mama.

Portanto, as mulheres diagnosticadas com câncer de mama em idade fértil devem ser encaminhadas para aconselhamento sobre fertilidade – dado o potencial risco de infertilidade com o tratamento quimioterápico – e munidas das informações disponíveis sobre a segurança dos procedimentos oferecidos.

*Artigo publicado na plataforma Medscape em 6 de março de 2023.

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