No conteúdo anterior, relacionado ao Março Azul-Marinho, mês de prevenção do câncer colorretal, falamos sobre os tratamentos para esses tipos de tumores, os quais atingem a parte final do intestino, composta pelo cólon e reto.
Para o último post da série, conversamos com o cirurgião oncológico, Dr. William A. Casteleins, a respeito da preparação para o procedimento cirúrgico. Ele é a parte final de todo um processo que se inicia algumas semanas ou meses antes, com o objetivo de obter a maior segurança e sucesso possíveis. Confira e saiba mais sobre esse importante assunto!
Principais etapas que antecedem a cirurgia do câncer colorretal
Ao ser diagnosticado com câncer no intestino, o paciente recebe uma avalanche de informações, seja a respeito da própria doença, do prognóstico ou do planejamento terapêutico mais indicado para o seu caso.
Uma vez em que se decide pela realização da cirurgia, inicia-se a preparação. O primeiro passo é a realização de diversos exames, incluindo os de sangue e de imagem. O objetivo é verificar o estágio em que se encontra o tumor, ao que se denomina estadiamento. Sem dúvidas, é uma das etapas mais importantes em qualquer tratamento oncológico, pois é a partir dessa definição que se aplica a melhor estratégia terapêutica.
Os exames de sangue incluem, por exemplo:
– Hemograma;
– Coagulograma;
– Função renal e glicemia;
– CEA (antígeno carcinoembrionário), uma proteína que funciona como marcador do tumor e pode estar elevada no sangue de pacientes com câncer de intestino.
Um dado importante é que o CEA será utilizado também no acompanhamento do tratamento, por um longo período.
Importância da equipe multidisciplinar
Caso o paciente tenha alguma condição de saúde que também demande atenção, como diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca ou enfisema pulmonar, é indicada uma avaliação com médicos especialistas nestas áreas, a fim de ajustar as medicações para a cirurgia.
Portanto, o cirurgião precisa do auxílio de cardiologistas, endocrinologistas e pneumologistas, de modo a deixar o paciente o mais controlado possível de comorbidades que possam interferir no resultado cirúrgico.
Após a realização dos exames e as avaliações com especialistas, o paciente será consultado pelo anestesista, numa consulta pré-anestésica, preferencialmente na mesma semana da cirurgia. É importante que o anestesista e o cirurgião interajam, de forma a alinharem alguns detalhes do procedimento, como por exemplo, decidirem se o paciente deverá ir para a UTI ou não logo após a cirurgia.
Vale frisar que os pacientes tabagistas devem suspender o fumo no mínimo 30 dias antes de uma cirurgia de grande porte. Além disso, os portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica precisam de um condicionamento pulmonar antes de se submeterem a uma anestesia geral.
Os profissionais que auxiliam nesta etapa são os fisioterapeutas. Existem exercícios específicos para melhorar as capacidades respiratórias e fortalecer a musculatura acessória da respiração. O objetivo, nesse caso, é fazer com que o paciente consiga ser extubado rapidamente, ainda dentro do centro cirúrgico.
O trabalho do fisioterapeuta também é muito importante após a cirurgia. Isso envolve estímulo e exercícios que ajudam o paciente a sair da cama e caminhar o mais breve possível, impedindo o desenvolvimento de trombose venosa nos membros inferiores.
Importância da nutrição antes e após a cirurgia do câncer colorretal
O ponto de vista nutricional é também imprescindível, talvez até o pilar mais importante para um bom desfecho operatório, já que a cicatrização do intestino e da parede abdominal é totalmente dependente de um bom estado nutricional. Muitos pacientes oncológicos tendem a emagrecer, seja por perda de apetite ou por consumo, onde o tumor lhe ¨rouba¨ energias, nutrientes e calorias.
A revisão deste estado catabólico e a prevenção de maiores perdas são fundamentais para evitar complicações cirúrgicas, como abertura de pontos e infecções. Existem diversas suplementações disponíveis no mercado, sendo que a mais específica para cirurgias intestinais envolve suplementos que atuam na modulação imunológica do trato digestivo.
Preparo mecânico do intestino: devo ou não fazer?
Por fim, um assunto muito controverso entre cirurgiões e muito perguntado pelos pacientes: deve-se fazer um preparo mecânico do intestino? Como regra geral, a resposta é não. Até pouco tempo atrás, recomendava-se o uso de laxativos por via oral, combinados ou não a antibióticos, com o intuito de deixar o intestino limpo, evitando-se contaminações com conteúdo fecal durante a cirurgia.
Hoje a medicina entende que preparos deste tipo não são necessários e, por outro lado, são desaconselhados, pois provocam diarreia, desidratando o paciente.
O intestino pode ficar muito bem limpo com uma dieta específica, iniciada 5 a 7 dias antes da cirurgia, com o consumo de alimentos que produzam muito pouco resíduos. Antes que se pense que é composta de alimentos nada palatáveis, não se engane, pois conta, por exemplo, com leite desnatado, pão branco, peixes, frango e algumas frutas, desde que sem casca e cozidas.
Um dia antes da cirurgia o paciente deve iniciar profilaxia para trombose venosa, com a injeção na noite anterior de uma dose subcutânea de heparina de baixo peso molecular, que será continuada no pós-operatório. Quando a cirurgia envolve o reto, o paciente também precisa utilizar um fosfoenema por via retal, na noite anterior e na manhã da cirurgia, garantindo assim uma limpeza da parte final do intestino.
Depois de ler até aqui, conseguiu entender todos os aspectos precisam ser levados em conta pelo o paciente e seu médico na preparação para uma cirurgia? Vale lembrar que tudo isso só é possível, em todas suas etapas, quando o procedimento é realizado em caráter eletivo, ou seja, agendado previamente. Em cirurgias de emergência ou urgência não há tempo para toda essa preparação, infelizmente.
Se você ainda tem alguma dúvida sobre o assunto, agende uma consulta conosco, será uma satisfação orientá-lo e elucidar pessoalmente todos estes pontos. Acesse o site e conheça nosso corpo clínico, estrutura e serviços!