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Exposição solar inteligente

Exposição Solar Inteligente
08/06/2024

Centro de Oncologia do Paraná

Por Danilo Amaro Stremel Andrade, cirurgião oncológico e coordenador do Grupo Tumores de Pele

Sair de casa, se expor ao sol

Talvez essa seja uma das necessidades mais básicas e prazerosas do ser humano. Nada mais saudável do que uma caminhada ao ar livre tendo o sol como companhia. Os benefícios dessa prática são incontáveis. Porém (e na vida sempre há um porém), se essa exposição não for feita de forma inteligente, a conta que chegará no futuro pode ser salgada demais.

Desde os primeiros dias de vida, somos expostos a um agente carcinogênico (aquele que tem capacidade de causar câncer) silencioso. Evidentemente, anos de exposição diária terá consequências a nossa pele.

Vamos entender isso

Já são bem conhecidos os dois tipos de raios solares que atuam na nossa pele: UVA e UVB.

Como eles têm uma frequência de onda diferente, o UVA é onda curta e frequência alta e o UVB onda longa e frequência baixa, cada um terá uma ação diferente na pele.

O UVA penetra na profundidade da pele causando principalmente envelhecimento e pigmentação, enquanto o UVB penetra na superfície causando queimadura e câncer.

UVA – raio solar presente durante todo o dia, não causa diretamente o câncer de pele, porém a exposição continuada leva ao stress oxidativo das células da pele liberando radicais livres.

Esses radicais livres criam um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das neoplasias. Isso quer dizer que a ação indireta desse dano solar tem uma grande importância na carcinogênese do câncer de pele.

Infelizmente, aquela caminhada bem cedo não é tão inofensiva para sua pele. É como se estivesse lentamente (bem lentamente) ‘’adubando” o terreno para o desenvolvimento neoplásico.

UVB mais presente no horário das 10 às 16 h. Este sim queima e machuca a pele. Após 30 minutos de exposição solar, já temos mutação celular com potencial de malignização. Nosso corpo tem mecanismos eficientes de reparo, que funcionam muito bem. Essa célula mutada tem dois caminhos: ou é reparada por genes de reparo ou é eliminada (apoptose é o nome técnico).

O problema acontece quando esses mecanismos de reparo falham e a célula vai para terceira via – progride na forma de câncer. A falha dos mecanismos de reparo acontece por dois motivos: o primeiro é por envelhecimento natural (isso não há nada que se possa fazer). O segundo, é pelo envelhecimento da pele (lembra dos radicais livres do UVA?). A ação solar destrói as células responsáveis pela defesa contra tumores (células de Langerans), e o tumor fica em ambiente muito propício graças aos radicais livres.

É por isso que os dermatologistas insistem no protetor solar, que vai diminuir o dano solar. É aquela economia da pele. Envelhecer com o máximo de proteção mecanismos de proteção celular e com o mínimo possível de radicais livres.

O grande problema é que a única forma de proteção da pele é com barreira contra os raios solares. Quando se fala problema, é porque é muito difícil (muito difícil mesmo) ser eficiente. E mesmo sendo eficiente, a proteção não é 100%.

Vamos entender isso…

Existem duas formas de proteção da pele, que são os protetores químicos e os físicos (ou minerais). Os mais usados são os químicos, que fazem a inativação do raio solar dentro da pele.

Primeiro problema: além de precisar a quantidade correta de protetor, deve-se esperar 30 minutos para absorção. Se ele não for absorvido pela pele, parte da eficácia será perdida. Trinta minutos nos dias atuais é muita coisa!

Segundo problema: deve ser reaplicado a cada duas horas. Seja qual for o número do fator. Acima de trinta é sempre o recomendado.

Terceiro problema: quanto maior o número de fator de proteção, mais caro é o filtro. O preço do protetor solar é muito caro!

Quarto problema: o paradoxo do protetor solar. Vários estudos mostram que quanto maior o uso de protetor solar mais câncer de pele tem.

Isso se explica, facilmente, pelo exposto acima, ou seja, uso incorreto, acarretando na falsa sensação de estar protegido.

Infelizmente o uso correto do protetor solar é muito difícil, por isso a importância de entender os mecanismos de carcinogênese, pois as alterações não são evidentes, e só serão percebidas na idade mais avançada, com potencial queda substancial na qualidade de vida.

O outro tipo de protetor solar é o físico ou mineral. Essa forma é um tipo de proteção de barreira e é ideal para esportistas, pois não sai da pele com o suor.

É um tipo de proteção muito interessante, porém, tem o problema de deixar uma aparência pálida ou outro tom de pele.

A minha orientação nas caminhadas e atividades físicas é o uso do protetor mineral, preferencialmente (mas pode ser o químico) na face e no pescoço, e uso de roupas com proteção UV no restante do corpo.

Como disse no início do texto, sol é vida e alegria. Não devemos deixar de usufruir essa maravilha que a natureza nos proporciona. Por isso insisto que a exposição solar inteligente é a melhor forma de garantir uma qualidade de vida melhor.

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