A campanha Fevereiro Laranja exerce um importante papel no alerta sobre a leucemia, doença maligna que afeta as células do sangue. A cada ano, cerca de 10 mil novos casos são diagnosticados no Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Um tipo de câncer que merece atenção é a leucemia linfoide aguda (LLA), um dos tumores mais comuns em crianças, que ocorre nos primeiros cinco anos de vida. A doença é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos no país.
A descoberta de uma neoplasia na infância traz danos físicos, pois grande parte dos tratamentos são agressivos, e também emocionais, já que o paciente e a família são afetados de forma intensa, além de ter a rotina transformada a partir do diagnóstico.
De acordo com a psico-oncologista, Michelle Servelhere, o suporte, tanto para a criança quanto para a família, é fundamental para a recuperação. “A reação da criança vai depender dos pais. Então, quando estes aprendem a lidar com a situação e com os sentimentos, o impacto para o pequeno paciente é menor e menos sofrido”, afirma.
Foi o que aconteceu com Lívia, 06 anos de idade, diagnosticada com LLA aos 02 anos. De acordo com Lucimara, mãe de Lívia, o momento do diagnóstico foi muito difícil, porém, a atenção e o apoio dos profissionais fizeram toda a diferença. “O início foi desesperador, ela sofreu muito, tinha medo da equipe e chorava o tempo todo, mas, aos poucos, com o carinho da equipe, o medo foi dando espaço para o amor, e de repente tudo ficou um pouco mais fácil de lidar”, declara.
Segundo a psicóloga, enfrentar a situação de uma forma objetiva e transparente atenua possíveis conflitos internos, pois evita que a criança fantasie e imagine inúmeras situações. “A criança não vai reagir ao diagnóstico, mas sim ao clima que vai se instalar no ambiente familiar. Por isso, conhecer a própria situação reforça sentimentos que são muito positivos, como a cooperação, a esperança e a confiança”, explica.
O carinho e o apoio que Lívia e sua família receberam durante o tratamento, não só contribuíram para a remissão da doença, como deixaram a trajetória da família mais leve. Além disso, os laços entre os profissionais envolvidos com a criança se solidificaram.
“É um amor sem fim, não tem como fazer oncologia pediátrica sem esse envolvimento. Você precisa construir uma relação muito forte com a criança para que ela permita que você faça o tratamento. É uma responsabilidade grande, pois está nas mãos do profissional conduzir a criança e a família na direção da cura”, relata Dra. Ana Luiza de Melo Rodrigues, oncologista pediátrica que acompanhou o tratamento da Lívia.
Hoje, completamente curada, a pequena vai ao Centro de Oncologia do Paraná a cada dois meses para fazer o acompanhamento. E, aquele medo inicial deu lugar à admiração. A cada consulta, Lívia se veste igual a Dra. Ana Luiza, com direito a jaleco e crachá. A atitude rendeu a ela o apelido de “pequena doutora”.
O tratamento da LLA geralmente é longo, e essa empatia e acolhimento por parte dos profissionais fortalecem o psicológico da criança. Além disso, assim como os pequenos se apegam aos médicos, o médico também cria uma relação forte com o paciente.
No caso da Lívia, essa amizade ultrapassou os portões do hospital. “Eu vou me casar em poucos meses. A Lívia vai ser minha daminha e o Matheus, outro paciente que fez o tratamento no mesmo período que ela, vai ser meu pajem. É muito amor de ambas as partes”, finaliza a oncologista.
*os sobrenomes da paciente e sua mãe não foram citados para preservar a identidade.