O câncer de colo de útero é uma doença que pode ser prevenida, pois depende da infecção persistente do vírus HPV para ocorrer. Entretanto, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), esse é o quarto tipo de tumor maligno mais comum entre as mulheres, ocasionando cerca de 570 mil novos casos por ano no mundo. Nesse contexto, diferentes motivos levam a não redução desses números, o que poderia acontecer caso fossem minimizados.
Para começar, o câncer de colo de útero ainda é alvo de preconceito. Como o HPV é um vírus transmitido pelo contato sexual, muitas mulheres deixam de fazer os exames necessários por vergonha ou medo de sofrerem discriminação.
Além disso, há a baixa adesão à vacina contra o HPV em meninos e meninas. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2014 e 2017, apenas 4,9 milhões de meninas, o que equivale a 48,7% do total delas na faixa etária entre 9 e 14 anos, tomaram a primeira e segunda dose da vacina.
Quando se trata dos meninos, o número é ainda menor. Somente 1,6 milhões deles, ou 43,8% desse público, tomaram a primeira dose. Todavia, a vacinação só garante a proteção se for feita em duas doses.
Infelizmente, mitos como o estímulo à iniciação da vida sexual precoce ou efeitos colaterais graves causados pela vacina, contribuem para a baixa taxa de vacinação de crianças e adolescentes no Brasil.
Sabendo dessa realidade e tendo a consciência de que é necessário mobilizar a população sobre o câncer de colo do útero, conversamos com a ginecologista e obstetra do Centro de Oncologia do Paraná, Dra Daiene Carvalho Casagrande, que esclareceu diversos aspectos sobre a doença. Confira!
O que é o HPV?
O HPV (vírus papilomavirus humano) é um vírus que causa lesões em diferentes partes do corpo, tendo predileção pela pele e mucosas. Pode causar verrugas ou lesões percursoras como o câncer de colo de útero, vagina, vulva, garganta, pênis e ânus.
É um vírus contagioso e transmitido, em geral, pelo contato de pele a pele. O modo mais comum de transmissão é por meio do ato sexual. Por isso é considerado uma infecção sexualmente transmissível.
Que tipos de HPV causam câncer?
Existem mais de 200 tipos de HPV, mas até hoje, cerca de 150 foram identificados e sequenciados geneticamente, sendo que cerca de 40 tipos podem infectar o trato ano-genital. Dentre eles, 13 podem causar lesões precursoras de câncer, como o câncer do colo do útero, garganta ou ânus e são mais preocupantes, considerados de alto risco oncogênico.
Cerca de 70% desses cânceres são causados pelos HPV tipo 16 e 18, enquanto os HPV 31, 33, 45 e outros tipos menos comuns são encontrados nos casos restantes. Os HPV tipo 6 e 11 e outros de baixo risco são bastante comuns em mulheres, mas causam apenas verrugas genitais, ou papilomas laríngeos.
Uma pessoa infectada por HPV apresenta sintomas?
Em geral, cerca de 80 a 90% da população vai entrar em contato com o vírus em algum momento da vida, mas mais de 90% das pessoas conseguem eliminar o vírus do organismo naturalmente, sem ter manifestações clínicas.
Ou seja, a maioria das infecções por HPV é assintomática, ou inaparente, e de caráter transitório, regredindo espontaneamente. Já as infecções latentes são detectadas por exames preventivos do câncer do colo do útero.
As lesões clínicas se apresentam como verrugas, os chamados condilomas acuminados, e aparecem com maior ocorrência na região ano-genital, tanto de homens, quanto de mulheres.
As lesões subclínicas (não visíveis a olho nu) são detectadas por exames de rastreamento e são chamadas de lesões intra-epiteliais. Podem ser de baixo grau, que refletem a presença do vírus e de alto grau, as verdadeiras lesões precursoras do câncer.
Qual é a melhor forma de prevenção ao HPV?
A melhor forma de prevenção é através da vacina contra o HPV, a prevenção primária da doença.Atualmente existem duas vacinas profiláticas contra o HPV aprovadas: a vacina quadrivalente, que confere proteção contra os HPV 6, 11, 16 e 18; e a bivalente, contra os HPV 16 e 18.
Educação sexual, reforçando a importância do sexo seguro e comportamentos sexuais, além do rastreamento por meio do exame preventivo, de Papanicolau ou citopatológico, para detecção de lesões precursoras e tratamento adequado, também são medidas importantes de prevenção do câncer do colo do útero.
Para quem se recomenda a vacina contra HPV?
Como citado, as vacinas são preventivas, por isso o maior benefício, com maior produção de anticorpos, acontece quando aplicadas em pessoas que não iniciaram sua vida sexual.
O Ministério da Saúde, em 2014, aprovou a implementação no SUS da vacinação gratuita contra o HPV em meninas de 9 a 13 anos, com a vacina quadrivalente. Em 2017, as meninas de 14 anos e meninos de 11 a 14 anos também foram incluídos no esquema vacinal. O esquema inclui 2 doses, sendo a segunda dose aplicada 6 meses após a primeira.
Para pessoas com HIV o esquema vacinal inclui 3 doses e a faixa etária é mais ampla, de 9 a 26 anos. Outros grupos etários podem dispor das vacinas em serviços privados.
A vacina quadrivalente está aprovada para prevenção de lesões genitais pré-cancerosas do colo do útero, vulva e vagina e verrugas genitais relacionadas aos HPV 6, 11, 16 e 18. Já a vacina bivalente está aprovada para prevenção de lesões genitais pré-cancerosas do colo do útero, vulva e vagina relacionadas aos HPV 16 e 18.
Porém, deve-se lembrar, que nenhuma vacina é terapêutica, ou seja, não tem eficácia contra infecções ou lesões já existentes.
Como você pôde comprovar, é fundamental desmistificar o câncer de colo do útero e incentivar cada vez mais mulheres a realizarem seus exames ginecológicos, assim como os pais e responsáveis a fazerem o esquema de vacinação contra o vírus de forma adequada, para que, dessa forma, possamos diminuir o número, ainda alarmante, de mulheres com câncer do colo do útero e outros tipos de tumores relacionados ao HPV evitarem doenças futuras em seus filhos e também em terceiros.
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