Estudo inédito publicado recentemente na revista científica JAMA – The Journal of the American Medical Association –, o periódico médico mais divulgado no mundo, aponta que bebidas açucaradas, como refrigerantes, estão associadas a um aumento de 85% no risco de câncer de fígado e um incremento de 68% na mortalidade por doença hepática crônica (cirrose). Pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital, entidade ligada à Universidade de Harvard, chegaram a essa conclusão após analisar o consumo de bebidas adoçadas em um grupo de 98.786 mulheres, com idades entre 50 e 79 anos, na pós-menopausa. O estudo foi realizado ao longo de 20 anos.
O cirurgião oncológico Marciano Anghinoni, coordenador do Grupo Multidisciplinar de Tumores Gastrointestinais do COP – Centro de Oncologia do Paraná, explica que esse estudo tem uma grande importância no contexto da prevenção do câncer de fígado, que é um dos mais mortais e cuja incidência está aumentando inclusive no Brasil. “Já se sabe que maus hábitos alimentares têm uma forte relação causal com vários tipos de câncer, e, na medida em que novas pesquisas vão sendo realizadas, estamos conhecendo quem são os verdadeiros vilões da nossa dieta”, aponta.
No Brasil, o consumo de bebidas adoçadas, principalmente industrializadas, como refrigerantes e sucos, é um hábito alimentar comum para a maioria da população, principalmente em crianças. “Esse estudo deve servir de alerta sobre a importância de se evitar bebidas que têm adição de açúcar, pois, desse modo, podemos prevenir doenças hepáticas e o câncer de fígado. Sobretudo, é hora de conscientizar nossas crianças sobre os riscos dos maus hábitos alimentares, incluindo o consumo regular de doces, mesmo na forma de bebidas”, ressalta o médico.
Mudança de hábitos é fundamental
Durante o período da pesquisa americana, as participantes relataram com que frequência consumiam refrigerantes e sucos de frutas com açúcar adicionado, em uma escala de “nunca ou menos de uma vez por mês” a “seis ou mais vezes por dia”. Os pesquisadores também analisaram o número de diagnósticos de tumor no fígado ou de morte por doença hepática crônica.
Os resultados da pesquisa mostraram que 6,8% das mulheres que consumiram uma ou mais bebidas açucaradas diariamente tiveram um risco 85% maior de câncer de fígado e 68% maior de mortalidade por doença hepática crônica, em comparação com as mulheres que ingeriram menos de três bebidas açucaradas por mês.
Os pesquisadores descobriram que as voluntárias do estudo que consumiam somente uma bebida açucarada por dia apresentavam 1,75 vezes mais chances de serem diagnosticadas com câncer de fígado em comparação com aquelas que consumiam o produto em três dias ou menos por mês. Com relação à ingestão diária, a bebida açucarada, também foi associada a quase 2,5 vezes mais chances de morte por doença hepática crônica.
As mulheres que consumiam bebidas adoçadas artificialmente não apresentaram risco aumentado de problemas hepáticos, independentemente de ingerirem diariamente. “Mais uma vez é comprovado que a mudança de hábitos de hábitos alimentares ajuda a evitar inúmeras doenças, entre elas as neoplasias. A prevenção ainda é a melhor aliada contra o câncer”, aponta Dr. Marciano Anghinoni.