Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o câncer de pele corresponde a 33% de todos os diagnósticos de tumores malignos no País. Para se ter ideia, a cada ano são registrados aproximadamente 185 mil casos da doença. O tipo com maior incidência é o não melanoma, que representa mais de 90% dos diagnósticos.
Dividido em dois subtipos mais comuns, basocelular (carcinoma de células basais – CBC) e espinocelular (carcinoma de células escamosas – CEC), o câncer de pele não melanoma está ligado principalmente à exposição crônica ao Sol e à radiação ultravioleta.
A boa notícia é que, quando diagnosticado precocemente, tem altas taxas de cura. Já os casos mais avançados, com metástases, vêm ganhando importantes avanços em tratamentos como a terapia-alvo e a imunoterapia.
Conheça mais sobre essas terapias no post a seguir, que contou com a participação do oncologista clínico do Centro de Oncologia do Paraná, Dr. Rafael Vanin de Moraes.
Tratamento para o câncer de pele (CBC): terapia-alvo com a molécula vismodegib
O carcinoma de células basais é o subtipo não melanoma mais comum. Ele tem maior incidência em pessoas de pele clara com história de exposição solar crônica, sendo mais raro naquelas de pigmentação escura. Apresenta-se frequentemente nas partes do corpo mais expostas, como rosto e pescoço, além disso, alguns casos podem estar associado a mutações genéticas.
Apesar da maior frequência no total de casos de câncer de pele, esse subtipo, que pode se manifestar como lesões e feridas com alterações de formato, que coçam, não cicatrizam ou sangram, é também o menos agressivo. Isso significa que ele tem crescimento lento e menores chances de produzir metástases, sendo, geralmente, tratado com cirurgia. Porém, quando descoberto em estágios já avançados, exige tratamentos medicamentosos.
Uma das últimas inovações para o tratamento de pacientes com a doença metástica, não inelegível para cirurgia ou quando a radioterapia é mal sucedida ou contraindicada, é a terapia-alvo com a molécula inibidora da via Hedgehog disponível para uso oral, Vismodegib.
Para ficar mais claro, a via Hedgehog é uma sinalização celular crucial para o desenvolvimento do embrião e do feto, além de ser importante em algumas células adultas. No entanto, pode ser hiperativa nos tumores basocelulares. O Vismodegid tem como alvo justamente uma proteína dessa via, com o objetivo de reduzir o tumor por sua inibição.
Os resultados em pesquisas têm se mostrado bastante promissores. O estudo pivotal, ERIVANCE BCC, foi um estudo internacional com pacientes portadores de tumores basocelulares inelegíveis para cirurgia ou radioterapia, os quais tinham se espalhado para outras partes do corpo, bem como um perfil histológico com diagnóstico de síndrome de Gorlin, a qual gera predisposição para a formação de CBC.
Os pacientes, com idade mediana de 62 anos, que haviam passado por terapias prévias, foram tratados com doses diárias de 150mg do medicamento Erivedge por via oral. Com duração média de tratamento de 12,9 meses, o objetivo primário da pesquisa era verificar a taxa de resposta objetiva, a qual foi definida como completa (eliminação total do tumor) ou parcial (redução do câncer).
A taxa de resposta em pacientes com metástase à distância foi de 33%, enquanto naqueles com doença localmente avançada foi de 47,6%, sendo que nesse grupo houve uma taxa de resposta completa em 21%. Os efeitos colaterais mais frequentes foram espasmos musculares, alopécia, disgeunia, redução de peso fadiga, náuseas e diarreia.
Trata-se de um resultado animador, na medida em que a medicação apresentou taxas significativas de resposta entre os participantes do estudo. Por isso, o Erivedge é o primeiro medicamente aprovado pela FDA para o carcinoma basocelular. Inclusive, foi revisado sob o programa de revisão de prioridade do órgão, o qual fornece uma revisão rápida de seis meses de medicamentos que podem oferecer grandes avanços em tratamentos.
Tratamento para carcinoma espinocelular de pele (CEC): imunoterapia
As metástases no CEC de pele podem aparecer em 2 a 4% dos casos, o que é relativamente baixo se comparado a outros tipos de tumores malignos. Dentre os pacientes com o desenvolvimento de metástases, 85% delas serão em linfonodos regionais e apenas em 15% poderão ocorrer nos linfonodos e em outros órgãos. Pulmão, cérebro e ossos são os mais comuns de metástases em ambos os subtipos não melanoma. No caso do CEC, somente cerca de 5% de todos os diagnósticos irão apresentar doença em estágio avançado pouco propenso à cura.
Os tumores de pele apresentam uma característica em comum, que é uma alta carga mutacional, o que levou os pesquisadores a explorarem novos tratamentos para a doença, como é o caso da imunoterapia.
O Cemiplimab, uma imunoterapia anti-PD-1 (proteína de ponto de verificação nas células T, um mecanismo específico do sistema imunológico, a qual normalmente impede que essas células ataquem outras células do corpo) demonstrou resultados muito promissores.
Um estudo clínico publicado na revista New England Journal of Medicine de fase I/ II, reportou os resultados do uso do medicamento, na dose de 3 mg/kg a cada três semanas, em pacientes com carcinoma espinocelular de pele com doença localmente avançada ou metastática.
Os resultados mostraram uma taxa de resposta da ordem de 50% nos pacientes com doença localmente avançada e da ordem de 47% nos pacientes com doença metastática. Entre os pacientes com doença metastática, a mediana de seguimento foi de 7,9 meses, e dos 28 pacientes que obtiveram resposta, cerca de 57% deles tiveram uma duração de resposta superior a 6 meses. No momento da avaliação do estudo, 82% deles estavam em resposta.
Apenas 15% dos pacientes tiveram reações adversas, sendo elas em sua maioria de leve intensidade: diarreia, fadiga, náuseas, constipação intestinal e reações cutâneas foram as principais. Um dado importante é que somente 7% dos pacientes precisaram descontinuar a medicação por causa de efeitos adversos, ou seja, de modo geral foi bem tolerada.
É importante frisar que ambas as medicações já estão aprovadas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Esse avanços apontam um caminho cada vez mais personalizado e assertivo para o tratamento do câncer de pele não melanoma. É sempre importante frisar a importância da prevenção, já que se trata de um tipo de tumor possível de ser evitado em muitos casos.
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